segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Eu canto a Ti?

É difícil falar sobre música sem antes distinguir de qual face estamos tratando: música enquanto arte, expressão ou produto. Da mesma forma, o amor pode ter vários significados de acordo o contexto musical ao qual está aplicado. O objetivo aqui não é tornar complexa uma atitude que não se ufana nem se ensoberbece. Mas, como cristãos, não podemos ser superficiais numa reflexão, afinal temos uma mente redimida.

A-M-O-R – quatro letras, um significado. Errado. Nas Escrituras existem várias palavras para representar os diferentes significados dessa única tradução que temos no português. E é justamente ai que começa todo o imbróglio na aplicação desta temática na música.

Enquanto Deus criava o mundo, no instante em que Ele permitiu um ruído, a música foi criada, para a sua glória. Atualmente, praticamente toda a música disponibilizada nos veículos de massa, como rádio e televisão (e acho que poderíamos citar carros tunados e celulares em espaços coletivos) é um produto, quer você queira ou não. Existe um mercado que precisa vender, precisa ter novas marcas, novos personagens, causar novas sensações e ditar tendências. Isso não é explícito, pois poderia acabar com o romantismo da música vista como arte. Porém, a verdadeira arte, por mais que pareça um produto muito caro, é tão democrática que não combina com o capitalismo.

Outra maneira de ver a música seria como uma forma de expressar sentimentos, e há tempos é muito utilizada com essa finalidade, seja o orgulho da pátria, nos hinos nacionais, o afeto ao amante, nas melodias românticas, ou a devoção e fé, através de cânticos espirituais. Mas, o fato é que, desde que nos tornamos uma sociedade consumista, passamos a consumir declarações desesperadas de paixão, relatos de tristes desencontros e, ultimamente, fantasias sexuais implícitas ou explícitas. E foi assim, de maneira sutil, que conseguiram enlatar os sentimentos, e forçar a música a vomitar uma confusão de significados.

Beijar, cheirar e abraçar é o que eu mais gosto de fazer com a minha esposa, é a expressão do Eros, amor físico, amor erótico, uma das formas de amor que temos pelos nossos cônjuges. Porém, há mais de uma década, estou sendo forçado a cantar isso direcionado ao meu Senhor, ao meu Rei, ao meu Salvador. A expressão da devoção deu lugar à busca por uma falsa intimidade, a subjetividade ultrapassou o limite do bom senso, da sabedoria e da coerência.

Se hoje você exalta o nome do Senhor Jesus é porque uma mensagem coesa chegou até você, do contrário o alvo da sua devoção pode ser o céu, o galardão, bênçãos e até poderes sobrenaturais. Portanto, o sacrifício agradável ao Senhor deve estar em coerência com a Sua Santa Palavra e não seguindo às tendências de um mercado. Louvar o nome do Senhor através da música deve ser o uso consciente de uma arte criada por Deus para expressar a nossa devoção.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Férias numa ilha Grega


Férias numa ilha paradisíaca...um sonho.

Um sonho numa ilha paradisíaca:
(imaginem aquela margem branca contornando o quadro e as vozes com eco, se não não tem graça!)

“– Uma das numerosas coisas do céu e da terra com que não sonharam aqueles filósofos é isto – e agitou a mão -; nós o mundo moderno. ‘Só se pode ser independente de Deus enquanto se tem juventude e prosperidade; a independência não nos levará até o fim em segurança.’ Pois bem, agora nós temos juventude e prosperidade até o fim. O que resulta daí? Evidentemente, que podemos prescindir de Deus. ‘O sentimento religioso nos compensará de todas as nossas perdas.’ Mas não há, para nós, perdas a serem compensadas; o sentimento religioso é supérfluo. E por que iríamos em busca de um sucedâneo dos desejos infantis, se esses desejos nunca nos faltam? De um sucedâneo das distrações, quando continuamos desfrutando de todas as velhas tolices até o fim? Que necessidade temos de repouso, quando nosso corpo e nosso espírito continuam deleitando-se na atividade? De consolo, quando temos o soma? De alguma coisa imutável, quando temos a ordem social?
- Então o senhor acha que não existe um Deus?
- Ao contrário, penso que muito provavelmente existe.
- Então por que...?
Mustafá Mond atalhou-o.
- Mas ele se manifesta de modo diferente a homens diferentes. Nos tempos pré-modernos, manifestava-se como o ser descrito nesses livros. Agora ...
- Como se manifesta ele agora? – perguntou o Selvagem.
- Bem, ele se manifesta como uma ausência; como se absolutamente não existisse.
- A culpa é sua.
- Diga, antes, que a culpa é da civilização. Deus não é compatível com as máquinas, a medicina científica e a felicidade universal. É preciso escolher. Nossa civilização escolheu as máquinas, a medicina e a felicidade.”

Aldous Huxley. Admirável Mundo Novo. 1932

A ilha: Patmos, Grécia.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

A minha gratidão é uma pessoa


Penso que a covardia seja uma característica não muito bem aceita, quando manifesta nos homens. De igual modo, o medo. Entretanto, por mais que a covardia pareça uma conseqüência do medo, as semelhanças terminam por aqui.

A princípio, a virilidade não compactua com nenhum dos dois elementos. Mas, o medo é algo inerente ao gênero masculino, contrapondo a idéia de que o homem é corajoso por natureza. Na verdade, é sua relação com o sexo oposto o modulador dessa característica, a mulher encoraja o homem.

O passo a diante dado pelo homem vem da mulher, não como permissão, mas como incentivo. Não que a mulher seja a detentora da coragem, e a cede ao homem no momento em que a marcha se torna instável para o próximo passo. O fato é que a sensibilidade feminina sofre uma metamorfose para então, no macho, ser coragem.

Esse mistério metamórfico da relação homem/mulher remete a um dos quatro elementos da natureza: o fogo. E como “fogo que arde sem se ver”, segundo Camões, os elementos expostos se moldam e, nesse mesmo processo, se purificam, tornam-se mais limpos, e, consequentemente, mais valiosos.

Não é bom que o homem fique só. Pensando nisso, criou Deus uma auxiliadora idônea. E “como arroz e feijão, a perfeita combinação, a soma de duas metades”, homem e mulher, juntos, são completos.

À minha linda companheira

sábado, 30 de maio de 2009

Feche os olhos para ver



“Hyakujo saiu um dia de casa acompanhando seu mestre Bashô e os dois deram com um bando de gansos selvagens. Bashô perguntou:
- Que é isso?
- São gansos selvagens, Senhor.
- Pra onde voam?
- Voaram, Senhor.
Repentinamente, Bashô segurou Hyakujo pelo nariz e fê-lo dar uma volta. Hyakujo, dominado pela dor, gritou: Oh! Oh!
- Disseste que voaram - disse Bashô - Mas, apesar disso, desde o princípio, eles todos estavam aqui.
Nisso, escorreu o suor das costas de Hyakujo. Era o Satori.” ¹


Para os zen-budistas satori significa a abertura do “terceiro olho”. Literalmente, em japonês, o significado da palavra é entendimento. Rubem Alves discorre sobre essa experiência, dando um sentido menos místico e mais poético, no que ele chama de “A complicada arte de ver”. O apóstolo Paulo, quando ainda Saulo, precisou perder a visão para aprender a ver utilizando os olhos do coração, para quando, recuperada a visão, pudesse utilizar os olhos como ferramenta de reflexão.

O Olho de Tandera... penso que esse seja o melhor exemplo, o mais inteligível, o qual remete-nos a um tempo que deveriam ter nos ensinado a ver, pois a sinceridade era algo completamente natural. Na espada justiceira, havia um elemento que dava a um líder a visão além do alcance, a capacidade de ver/perceber todos os fatos que teciam determinada circunstância.

Hyakujo precisou sentir dor para aprender a refletir. Talvez seja esse o problema: sentir dor. É impossível experimentar tal sensação. Não temos tempo para isso e, além do mais, o antídoto é mais um dos exercícios da nossa fênix capitalista. Definitivamente, querem banir este sintoma do nosso cotidiano mediante um bombardeio silencioso e invisível aos nossos radares.

O fato é que nesse “ensaio sobre a cegueira” no qual vivemos, enquanto tateamos o caminho, cegos bem treinados roubam nosso alimento e nos forçam a viver sob seu jugo. Mas, mesmo cegos, abrir um terceiro olho, o olho do coração, o qual nos dá a capacidade de ver além do alcance, com olhos de poeta, é possível.


1. O caminho Zen, de Eugen Herrigel